As palavras sempre foram minhas conselheiras, amigas, saco de desespero gratuito e viagem encantada pelo universo estranho do sonho. Durante muito tempo pensei que com elas conseguia fazer quase tudo. Ser feliz, descrever o mundo, falar aos sentimentos, construir a ilusão, discutir, absorver, viver e saborear o que o mundo me pudesse soletrar.
Mais tarde descobri que há palavras que nunca se confessam nem sussurram, porque o idioma se esgotou no vocabulário do coração. Inventei fórmulas e engendrei planos de recuperação escrita e quis ser o pergaminho da descobeta do que não conseguia dizer... fracassei... porque é assim, porque há coisas que nunca se relatam, porque só assim as podemos sentir. Esses eram sentimentos bons, por isso os guardei para mim sem me importar que mais ninguém percebesse, que mais ninguém os testemunhásse no silêncio irrequieto das palavras mal compostas.
Hoje, e porque a caminhada da vida me obriga algumas vezes a uma mudez enraivecida e tumultuante, descubro que aquilo que as palavras não descobrem, é demasiado atroz para se revelar secretamente.
Convocam-nos para viver erraticamente num teste de cruzes sem sabermos as matérias de antemão e sem sermos alunos aplicados. Confiamos na sorte e com maior ou mais pequena dose da mesma vamos seguindo e sonhando para quando já não precisarmos de um avião para voar e de confiar na Sorte.
Às cabeçadas lá aprendemos de cor o que é sortear e continuamos... absorvemos, sonhamos justo o que ao nosso esforço pertence e esquecemos que a vida é injusta. Cerramos os punhos e vamos à luta com a cara amarela e os olhos vermelhos de sonhos melhores. Adoecemos de sonhar e de errar no teste cruzes viciado e convertido numa sociedade. Acabamos ao que nos comprometemos e... finalmente percebemos que há muito não se pode voar. Arranjam-te um pára-quedas e desejam-te boa-Sorte, mesmo sabendo que não há sorte possível. QUE OS TEUS SONHOS SÓ SERÃO SONHOS PORQUE NÃO OS PODES CONCRETIZAR, por muito que cerres os punhos e cegues de luta contínua.
Olhamos para trás e arrependemo-nos da caminhada, dos esforços feitos, da solidão, dos sacrificios, dos sonhos confessados. Vamos ser só mais uns robôs de "vamos brincar de viver". Começamos a sonhar menos, a encurtar a imaginação, a desejar menos, cada vez menos, quase nada... o silêncio... a anulação das palavras... VEM A DOR... Insuportável, indecifrável!!! Traz a raiva, a revolta nunca extinta, a indignação, todos os sentimentos exarcebados que as palavras não deixam contar e lá estás tu... incrédulo e apenas com a Sorte a martelar-te o crânio: PORQUE É QUE ME DEIXARAM SONHAR SEM PALAVRAS?????!!!!!
Comentários