Avançar para o conteúdo principal

À conversa com Luís Oliveira (parte 4)

Falava-me há pouco das cintas de promoção e das figuras em k-line. Há uns anos o editor era uma pessoa apenas preocupada com o conteúdo pragmático da sua editora e a escolha dos livros. Hoje, assiste-se dentro das editoras, a uma preocupação com as áreas de gestão e marketing paralelamente à parte editorial. Como é que comenta esse cenário?

Eu acho que isso é necessário, as editoras que têm um determinado número de funcionários necessitam de xis títulos (50, 100 ou 200) por ano. Se não estiverem organizadas a esse nível, com toda a lógica das empresas, obviamente que não têm vida.
Agora, eu digo como os surrealistas: "nós não simpatizamos com a polícia, com o exército, com os padres, mas entendemos que eles são necessários a esta sociedade, com a qual igualmente não simpatizamos". Eu entendo que essas editoras precisem de tudo isso, mas não simpatizo com isso, isso não me diz nada. Aqui, trabalhamos de outra maneira, não há departamentos, não há directores... há três pessoas, duas em part-time, produzimos 10 ou 12 livros por ano... e é tudo!


Como é que vê o aparecimento de tantas editoras nos últimos tempos?

Não me assusta, nem acho que seja criticável. Se as pessoas têm esse desejo de editar, esse desejo não deve ser mutilado. Mas, acho que as editoras entram e saem. No início, quando têm 90 dias ou 6 meses para pagar ás tipografias, ainda não têm armazéns, não têm impostos...há sempre dois ou três anos que são muito fáceis. Depois, desaparecem. Tem sido assim. E destas editoras que surgiram recentemente, penso que muitas delas não terão condições para se aguentar, algumas já estão a fazer um grande desvio dos seus próprios projectos, perdendo o conceito inicial. Mas, a edição é uma coisa apaixonante.

in Os Meus Livros, Maio de 2006

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Uma verdade simples, de Jodi Picoult

Leitura agradável, mas não brilhante. É um livro que se lê facilmente, apesar de não me ter cativado no início. Para ser sincera só a mais de meio consegui nutrir algum interesse pela história. Até lá, achei o livro banal, expectável e cinematográfico. Considero que não é um livro mau, apenas não é a minha onda.  Então, relata a história de uma rapariga amish, que é acusada de matar o seu próprio filho à nascença e da sua advogada cosmopolita e mal resolvida amorosamente. A advogada não acredita na sua inocência, mas resolve ajudá-la a pedido de Leda, sua tia. Depois disso surgem as peripécias. A advogada acaba por acreditar na sua inocência quando ela se considera culpada, entretanto reapaixona-se pelo psicólogo que defende a acusada, que por sua vez era um namorado antigo. A acusada revela, aos poucos, a verdadeira história da noite da morte e enfrenta a dificuldade entre escolher o pai do filho, pertencente ao mundo normal e a sua vida simples de amish. O que lhe aconteceu? É c

Se isto é um Homem, Primo Levi

Já andava na minha prateleira há algum tempo, mas eu não me decidia. O tema agradava-me, mas tinha medo de me dececionar. Temia que fosse demasiado filosófico... Comecei e já não parei. Não é uma leitura simples, mas também não é um quebra-cabeças.  Primo Levi, judeu italiano, apanhado pela máquina nazi, foi capturado em Auschwitz. Este o nome que ninguém deveria esquecer, para que nunca nos esqueçamos que o ser humano consegue ser animalesco pela sobrevivência e pelo poder da crueldade. Convenhamos que, ninguém, com um mínimo de valores, conseguirá tratar desta forma outro ser humano diariamente, durante anos. Primo Levi, que viria a falecer em consequência de uma queda na escada do prédio onde vivia, sobreviveu ao campo de concentração. Sobreviveu porque no meio do azar, teve sorte. Sorte por ter apanhado escarlatina e não ter sido encaminhado para a caminhada da morte , sorte por ter conhecimentos de química e ter conseguido manter-se quente no laboratório para onde foi destinado

D. Sebastião e o vidente, de Deana Barroqueiro

É um calhamaço!! Conta com 629 páginas, rebuscadas, com um vocabulário erudito, muitas personagens, mas ... fascinante! Este livro, obviamente, relata a história de vida de D. Sebastião com todos os pormenores, desde a mãe que o deixou, à sua deformidade física, ao seu caráter, bravura... Assim, este pequeno rei, em tamanho e em idade, demonstrou a sua infantilidade nos rasgos de bravura. Inocente, sonhava com a guerra, mas soube antever os interesseiros que lhe apareceram pelo caminho. Existe também Miguel, um menino que nasceu no mesmo dia que ele e que o acompanha ao longo da história, mas que acaba por nunca conseguir aproximar-se o suficiente. É ele o vidente do título, mas a sua personagem acaba por não ser muito "útil", uma vez que é incapaz de mudar o rumo dos acontecimentos, limita-se a admirá-lo ao ponto de o acompanhar à morte. Quem não conhece D. Sebastião, o desejado, aquele que desapareceu em Alcácer Quibir e que regressará envolto no nevoeiro. Cá te es