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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2008

Bichos - Miguel Torga

É obra escolar e apesar de contos não representarem uma das minhas preferências, Miguel Torga faz parte delas. Li e gostei! Ainda bem que se torna uma das opções de ensino. A visão dos bichos, a sua semelhança aos seres pensantes, a animalidade que podemos ser... Bom! Suave, de leitura fácil, com muita oralidade... mais uma vez gostei e recomendo. "Irreprimível, uma onda de calor tapou-lhe o entendimento por um segundo. O corpo, inchado de raiva, empurrou as paredes do cubículo, num desespero de Sansão. Nada. Os muros eram resistentes, à prova de quanta força e de quanta justa indignação pudesse haver. Os homens, só assim: ou montados em cavalos velozes e defendidos por arame farpado, ou com sebes de cimento armado entre eles e a razão dos mais... Palmas e música lá fora. O Malhado dava gozo às senhorias... Um frémito de revolta arrepiou-lhe o pêlo. Dali a nada, ele. Ele, Miura, o rei da campina!" Miguel Torga in Bichos

Anjos e Demônios-Trailer-Oficial

Li, depois de muita insistência de parentes e amigos com pouca prática de leitura, o livro "Anjos e Demonios" de Dan Brown. Pensei que um livro que embrenhou na prática de leitura tantos que achavam monótono este acto, tinha mesmo que ser bom. Mesmo nunca me sentindo atraída pelo género e tendo algumas desconfianças acerca do autor, resolvi que tinha de saber o que é que o raio dos livros do Sr. tinham de tão especial. E querem saber o que descobri: nada! O filme é muito estilo "série de tv", não tem gosto a literatura. Faltou-me qualquer coisa. É certo que não o li com muito agrado, nem o iniciei com muita vontade, mas li. Maltinha agora preparem-se para as criticas, porque ate agora eu não sabia, não tinha lido.... "As únicas luzes eram os holofotes exteriores que iluminavam a fachada. Todas as pequenas janelas estavam às escuras. Os olhos de Langdon continuaram a subir. Mesmo no alto do torreão central, trinta metros acima do chão, exactamente por baixo da p

Os miúdos do fio de nylon (parte 2)

O sorriso morre-lhes nos lábios com rapidez. Só o latido do Benfica, um rafeiro que guarda as galinhas e os gansos do quintal, os consegue distrair da tarefa penosa e repetitiva. "Cala-te cão", gritam à vez. E logo voltam a baixar a cabeça para os fios e agulhas. Há quase uma década que esta rotina tomou conta da família. De manhã levantam-se para coser. À noite, adormecem com dores nas costas de tanto coser. "Os miúdos ajudam-nos quando vêm da escola. É o dever deles, não é?". É pergunta retórica, sem resposta, de Aldina, que afaga, por segundos, o cabelo de Carlitos, de 11 anos. Os sapatos de fino corte que ele cose com perícia não podiam constrastar mais com as suas sandálias cambadas e as meias brancas sujas de lama. "É melhor trabalhador e aluno do que o irmão, que já perdeu dois anos lectivos", explica a mãe, que jura a pés juntos não os tirar dos bancos da escola. Pelo menos para já. O rapaz magro de olhos claros e ar ausente atira mais um sapato pa

Os miúdos do fio de nylon (parte 1)

Agachados em cima de um caixote cambaleante, os dois irmãos magricelas vão unindo, com uma agulha e muita paciência, as palmilhas dos sapatos de camurça. Aprendem mais depressa a coser do que a decorar a tabuada. Eles trabalham há várias horas, com a família, num alpendre escuro, de granito frio e madeira carcomida e onde se misturam os cheiros fétidos do estrume e do bafio. As grossas dedeiras nem sempre os protegem do cortante fio de nylon, que lhes vai abrindo gretas e deixando cicatrizes nas palmas das mãos. Não é preciso ser vidente para lhes ler um futuro enegrecido... Pormenor: a cena não se passa num bairro da lata em Calcutá, ou numa província da China, mas a norte de Portugal, numa freguesia rural em Felgueiras! "Ai, aleijei-me!", exclama Miguel, o mais velho, interrompendo o pesado silêncio. Veste uma "t-shirt" do campeão, o "fê-quê-pê", e sonha mostrar ao mundo os seus dotes com o esférico. Um dia. Por enquanto, são as suas mãos esguias que tra

Barcos do Tejo

O largo Tejo... Velas brancas... Velas Cor de laranja... Barcos de água acima... Muletas antiquíssimas... Ao vê-las Surge a Saudade que o Passado anima. Proa recurva, ríspida de pregos, Casco bojudo e todo alcatroado, Vem de nossos avós fenícios, gregos, Ou de Eras mais escuras do Passado? Cheia de pano - pano à proa, à popa, Paira a muleta de arte à tartamanha. Lembram ao longe um estendal de roupa, As velas dessa embarcação estranha. Cobertas de fantástico velame, prolongam-se na Costa que branqueja, Como golfinhos mortos onde o enxame De gaivotas alvíssimas adeja. Martinho de Brederode , in "Cancioneiro de Lisboa", coligido por João de Castro Osório

Equador - Miguel Sousa Tavares

Em primeiro lugar quero agradecer a oferta feita há já algum tempo pelos amigos Nuno e Jorge. Não costumo gostar de Miguel Sousa Tavares, tem o dom de por vezes me irritar com certos comentários. Ninguém diria que é filho da Sr.ª que é, pensava eu. Enganei-me! Equador foi dos poucos livros que me prendeu do princípio ao fim, fez-me lembrar um pouco o estilo do Eça. Fenomenal! Resumidamente, conta a história de um Sr. Luís Bernardo, que acreditava que todos os colonos ao serem portugueses teriam os mesmos direitos que os colonizadores e se depara com a dificuldade de uma pequena colónia acreditar nisso também. Entre amores, desamores, fundamentalismo e política vamos vendo desenrolar um livro surpreendente com o cheirinho de África e da sua magia. O regresso a Lisboa e à vida de D. Juan já não voltará a acontecer, mas se querem saber o final leiam e não se deixem esmorecer pelas 527 páginas do livro. Garanto que vale a pena. Aqui fica um bocadinho: "- Oh, meu amigo, deixe de me tra