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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2008

Mariza Terra

Quando escrevo tenho tndência para iniciar os textos com saudade ou solidão. Escrevo em forma de catarse, de sonâmbulismo entediante como se não esperasse mais nada... Sou triste, tenho fado comigo e em lamento digo o que não canto aos outros. Amarga-me esta solidão saudosa e a preto e branco! Queria pintar com outras cores, sentir laranja, amarelo, vermelho, verde...

Se o mundo soubesse da nossa solidão, embrutecia o seu coração e devorava-nos nas entranhas das trevas permanentes. Se o mundo soubesse que não gostávamos de nós, amainava o seu cheiro e o seu fruto na ânsia do que não temos. Se o mundo soubesse que mesmo de olhos abertos já estamos ausentes guardaria a sua história apenas do início. Se o mundo soubesse que não somos nem nunca fomos deixaria de existir. Vidinha

Convento de Mafra

Mafra é digníssima de ver-se, de visitar-se por mais de uma vez, pela importante lição de história que ela ministra. A vila é pequena e pobre. O célebre edifício de D. João V ostenta a sua enorme corpulência quadrada e maciça no meio de uma vasta nudez fria e abatida. Ocupa uma área de 40.000 metros quadrados, tem quatro mil e quinhentas portas e janelas e duas torres de 69 metros de altura. Levou treze anos a fazer. A média dos operários empregados em cada dia na construção da obra monta a vinte mil. Uma só pedra, de que se fez a varanda da sala principal, levou seis dias a chegar de Pêro Pinheiro e foi puxada por 200 bois. Os paramentos, ainda hoje existentes e bordados a matiz sobre as mais belas sedas da Índia ou das melhores fábricas da Europa, são de tal modo sumptuosos que D. João V dizia haverem-lhe custado mais caro que todo o edifício! As festas da sagração duraram oito dias. No primeiro dia as solenidades religiosas começaram às 8 horas da manhã e acabaram às 5 da manhã do d

Bela Estrela - Eugénio de Andrade

Terei talvez perdido a chave, e toda a gente ri à minha volta, cada qual mostrando-me uma chave enorme pendurada ao pescoço. Sou o único a não ter seja o que for para entrar. Todos desaparecem e as portas fechadas tornam as ruas mais tristes. Nem vivalma. Baterei a todas as portas. As injúrias choveram das janelas, enquanto me ia afastando. Então um pouco para lá da cidade, à beira de um rio e de um bosque, encontrei uma porta. Uma simples porta com bandeira e sem fechadura. Atrás dela, sob a noite sem janelas mas de longas cortinas, entre o bosque e o rio que me protegem, pude dormir.