A sua atracção pelo escritor inglês compreende-se, afinal, foram os meandros da mente humana que fascinaram ambos. A profundeza das personagens e a complexidade das histórias e preocupações de Shakespeare representavam terreno fértil, apesar de ficcional, para Freud explorar as suas teorias. Seria surpreendente que fosse Hamlet, o mais perturbado de todos, a maior atracção sobre o psicanalista? Claro que não. No seguimento daquilo que passou a ser uma das mais citadas passagens de sempre, "Ser ou não ser?", eis que o protagonista continua: "... Dormir! Talvez sonhar./ Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão-de vir no sonho da morte/ Quando tivermos escapado ao tumulto vital/ Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão/ Que dá à desventura uma vida tão longa."