Avançar para o conteúdo principal

À conversa com Luís Oliveira (parte3)


De qualquer modo, as editoras se não tiverem livros que vendam fecham as portas...


Exactamente. O que acontece é que há um erro da parte de muitos editores quando publicam certos livros porque pensam que se vão vender. E nem sempre tem sido assim... nem sempre é uma coisa racional. Nós temos 27 anos de edição e estamos aqui, nunca trabalhamos para best-sellers e temos alguns. E estamos para continuar, apesar de grandes dificuldades e das livrarias estarem muitas vezes ocupadas com as grandes editoras que têm dinheiro para comprar espaços nos hipermercados.

A nossa força é a força das ideias. O que não significa que muitas editoras portuguesas não mereçam o meu respeito pelo trabalho que têm feito, pelo grande esforço que fazem para subsistir e trazer até aos leitores livros extraordinários.



No entanto, há certos autores que, todos sabemos, sempre que lançam um livro ele vai direitinho para as tabelas dos mais vendidos. Pensa que há uma fórmula para criar um best-seller?


Penso que sim, as editoras que jogam com muito dinheiro e influências podem criar grandes fenómenos... muitas vezes não se perceb muito bem como é que funciona, nós nunca fizemos nada por alguns livros e, no entanto, fazemos muitas edições desses livros. Hoje há fenómenos como o António Lobo Antunes, o Saramago, escritores novos como a Margarida Rebelo Pinto, o Miguel Sousa Tavares, ainda o ano passado fartava-me de tropeçar na fotografia dele, em cartão, nas livrarias... são televisões, jornais, rádios... tudo a tomar conta de um autor e a dizer "leiam que isto é bom". As pessoas estão, de certa maneira, desmunidas, muitas vezes alienadas, e compram livros que são recomendados em todo o lado. Nós deixamos de usar cintas a dizer 2ª ou 3ª edição, porque não queremos que o leitor chegue ao livro de forma alienada. Essa cinta, ao dizer "500 mil exemplares vendidos em todo o mundo", se o leitor vai comprar o livro por causa dessa informação ele já vai alienado para o livro, já vai com a cabeça poluída.


in Os Meus Livros, Maio de 2006



A antígona foi responsável pela edição de Sete Livros Iluminados de William Blake, com poemas intimistas e voltados para dentro; In Vino Veritas de Soren Kierkegaard, que descobre diferentes estádios da vida; e ainda A Anestética da Arquitectura de Neil Leach, que nos remete para a função da arquitectura nas nossas vidas.



Mas não será sempre compatível um livro ser um best-seller e um bom livro...

Não, de maneira nenhuma. Há livros que são best-seller e que são excelentes. Mas não é uma regra geral... e é sempre de desconfiar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Uma verdade simples, de Jodi Picoult

Leitura agradável, mas não brilhante. É um livro que se lê facilmente, apesar de não me ter cativado no início. Para ser sincera só a mais de meio consegui nutrir algum interesse pela história. Até lá, achei o livro banal, expectável e cinematográfico. Considero que não é um livro mau, apenas não é a minha onda.  Então, relata a história de uma rapariga amish, que é acusada de matar o seu próprio filho à nascença e da sua advogada cosmopolita e mal resolvida amorosamente. A advogada não acredita na sua inocência, mas resolve ajudá-la a pedido de Leda, sua tia. Depois disso surgem as peripécias. A advogada acaba por acreditar na sua inocência quando ela se considera culpada, entretanto reapaixona-se pelo psicólogo que defende a acusada, que por sua vez era um namorado antigo. A acusada revela, aos poucos, a verdadeira história da noite da morte e enfrenta a dificuldade entre escolher o pai do filho, pertencente ao mundo normal e a sua vida simples de amish. O que lhe aconteceu? É c

Se isto é um Homem, Primo Levi

Já andava na minha prateleira há algum tempo, mas eu não me decidia. O tema agradava-me, mas tinha medo de me dececionar. Temia que fosse demasiado filosófico... Comecei e já não parei. Não é uma leitura simples, mas também não é um quebra-cabeças.  Primo Levi, judeu italiano, apanhado pela máquina nazi, foi capturado em Auschwitz. Este o nome que ninguém deveria esquecer, para que nunca nos esqueçamos que o ser humano consegue ser animalesco pela sobrevivência e pelo poder da crueldade. Convenhamos que, ninguém, com um mínimo de valores, conseguirá tratar desta forma outro ser humano diariamente, durante anos. Primo Levi, que viria a falecer em consequência de uma queda na escada do prédio onde vivia, sobreviveu ao campo de concentração. Sobreviveu porque no meio do azar, teve sorte. Sorte por ter apanhado escarlatina e não ter sido encaminhado para a caminhada da morte , sorte por ter conhecimentos de química e ter conseguido manter-se quente no laboratório para onde foi destinado

D. Sebastião e o vidente, de Deana Barroqueiro

É um calhamaço!! Conta com 629 páginas, rebuscadas, com um vocabulário erudito, muitas personagens, mas ... fascinante! Este livro, obviamente, relata a história de vida de D. Sebastião com todos os pormenores, desde a mãe que o deixou, à sua deformidade física, ao seu caráter, bravura... Assim, este pequeno rei, em tamanho e em idade, demonstrou a sua infantilidade nos rasgos de bravura. Inocente, sonhava com a guerra, mas soube antever os interesseiros que lhe apareceram pelo caminho. Existe também Miguel, um menino que nasceu no mesmo dia que ele e que o acompanha ao longo da história, mas que acaba por nunca conseguir aproximar-se o suficiente. É ele o vidente do título, mas a sua personagem acaba por não ser muito "útil", uma vez que é incapaz de mudar o rumo dos acontecimentos, limita-se a admirá-lo ao ponto de o acompanhar à morte. Quem não conhece D. Sebastião, o desejado, aquele que desapareceu em Alcácer Quibir e que regressará envolto no nevoeiro. Cá te es