Avançar para o conteúdo principal

Conhecimentos


Até há bem pouco tempo transcrevi, por partes, uma entrevista com Luís Oliveira. Hoje, deixo-vos um bocadinho do percurso deste Sr. Porque os livros não são feitos só de escritores.


Manuel Luís Oliveira nasceu em Chãos, Ferreira do Zêzere, corria o ano de 1940. Foi para Santarém com 25 anos. Ali germinaria o futuro de Oliveira. "Em Santarém encontrei grandes figuras da literatura como Herberto Helder ou o António José Forte, que foi um grande amigo meu", recorda. "Esses anos, de 1965 a 1969, foram muito importantes, um grande mergulho psicológico. Passávamos as noites a beber vinho e a ler". Em 1969 abriu a livraria Apolo, que manteve até 1973. "A livraria desenvolveu uma actividade intensa, com muitas palestras... o Mário Viegas, por exemplo, ia lá frequentemente e sempre que ele lá ia havia PIDES a vigiar a livraria. Foram tempos muito activos, vendi muitos livros proibidos. Lembro-me de vender mais de 200 livros do "10 dias que abalaram o mundo", do John Reed; foi muitas vezes apreendido mas nós também tinhamos os nossos alçapões. Aquela livraria influenciou uma geração, lembro-me do Salgueiro Maia, que ia lá quase todos os dias comprar, de preferência, esses livros proibidos. Depois percebi onde ele queria chegar...", recorda, divertido.

Mais tarde, já em Lisboa, os livros voltariam a entrar na sua vida, de onde, em boa vontade, nunca sairam. "Continuei a andar com os meus amigos, nas noites, nos dias... e em 1979 abri a Antígona, com o meu amigo Torcato Sepúlveda. Iniciámos a editora com um livro chamado "Declaração de guerra às Forças Armadas e outros Aparelhos repressivos do Estado", com o pseudónimo de Custódio Lousa, major dissidente. Uma invenção, porque o livro, na verdade, foi escrito pelo Torcato e por mim. Nós andávamos muito nas noites, , pelo Cais do Sodré e inventámos um major, porteito num bar do Cais do Sodré, que fazia a crítica do aparelho de onde vinha a apologia da liberdade - até da prostituição, como provocação. Logo no prefácio explicamos que não somos de esquerda nem de direita, porque são dois sistemas dominantes e isso não nos interessa. Sempre quisemos ter uma posição não ideológica, visto que as ideologias acabam por se tornar em sistemas. Se é justo falar da ideologia por trás da Antígona, será sempre uma ideologia libertária".


in Os Meus Livros



Este Sr. elege ainda livros de outras editoras, são eles: Guy Debord de Anselm Jappe, editado pela Vozes; O Mundo de Ontem de Stefan Sweig, que se trata de um livro de memórias editado pela Assirio & Alvim; Confissão Geral de Napoleão Bonaparte de General Sarrazim e editado pela Frenesi; Fragmentos são Sementes de Novalis, acerca de poesia, editado pela Roma e ainda A Arte de Amar de Ovídio, que se assemelha a um manual do amor, editado pela Cotovia.

Comentários

Carlos Gil disse…
... livraria Apolo que foi depois do Manuel Castela que eu ainda conheci (cheguei à lezíria, com a cheia, lá para finais dos 70's...)

estou a gostar de te ler, continua...
Carlos Gil disse…
(voltando a este post:)
'Guy Debord conheço-o, autor, daquele de capa 'em prata', o A Sociedade do Espectáculo. não conheço esse, ao título dedicado a ele.
no entretanto recomendo o que referi, um óptimo ensaio dos '70's: acabei ppor ir buscá-lo e estou c ele na mão: olha este bocado que, ainda hoje, vou meter no meu blogue: (pág. 151, cap. A Negação e o consumo na cultura': "quando a arte tornada independente representa o seu mundo com cores resplandecentes, um momento da vida envelheceu e ele não se deixa rejuvenescer com cores resplandecentes. Ele deixa-se somente evocar na recordação. A grandeza da arte não começa a aparecer senão no poente da vida".
et al, vale a pena passar-lhe os olhos, naco a naco.
bj

Mensagens populares deste blogue

Eu Quero Viver - Nina Lugovskaia

Andei a ler este livro, terminei-o há 2 dias e tive uma grande desilusão. Bem, é certo que eu já não tinha gostado de "O Diário de Anne Frank", por isso, também não gostei deste. Passei o livro todo a pensar que a jovem era normalíssima apesar de viver no regime de Estaline. As preocupações eram as mesmas de qualquer jovem com a idade dela, aliás até a achei um pouco acriançada dadas as circunstâncias e os seus 18 anos de idade. Enfim, um fiasco! Não consigo gostar mesmo, porque fico sempre à espera de detalhes e pensamentos que eu acharia próprios da época e do contexto e acabo por achar que as jovens sofreram um bocado sim, mas isso não as fez diferentes da grande maioria dos jovens de hoje com a mesma idade, inclusivê esta abusa do egocentrismo e preocupação estética de uma forma quase doentia. Gostaria de ter mais para dizer, mas de facto, o livro não me despertou grande atenção. Na minha opinião: não comprem!

D. Sebastião e o vidente, de Deana Barroqueiro

É um calhamaço!! Conta com 629 páginas, rebuscadas, com um vocabulário erudito, muitas personagens, mas ... fascinante! Este livro, obviamente, relata a história de vida de D. Sebastião com todos os pormenores, desde a mãe que o deixou, à sua deformidade física, ao seu caráter, bravura... Assim, este pequeno rei, em tamanho e em idade, demonstrou a sua infantilidade nos rasgos de bravura. Inocente, sonhava com a guerra, mas soube antever os interesseiros que lhe apareceram pelo caminho. Existe também Miguel, um menino que nasceu no mesmo dia que ele e que o acompanha ao longo da história, mas que acaba por nunca conseguir aproximar-se o suficiente. É ele o vidente do título, mas a sua personagem acaba por não ser muito "útil", uma vez que é incapaz de mudar o rumo dos acontecimentos, limita-se a admirá-lo ao ponto de o acompanhar à morte. Quem não conhece D. Sebastião, o desejado, aquele que desapareceu em Alcácer Quibir e que regressará envolto no nevoeiro. Cá te es...

Se isto é um Homem, Primo Levi

Já andava na minha prateleira há algum tempo, mas eu não me decidia. O tema agradava-me, mas tinha medo de me dececionar. Temia que fosse demasiado filosófico... Comecei e já não parei. Não é uma leitura simples, mas também não é um quebra-cabeças.  Primo Levi, judeu italiano, apanhado pela máquina nazi, foi capturado em Auschwitz. Este o nome que ninguém deveria esquecer, para que nunca nos esqueçamos que o ser humano consegue ser animalesco pela sobrevivência e pelo poder da crueldade. Convenhamos que, ninguém, com um mínimo de valores, conseguirá tratar desta forma outro ser humano diariamente, durante anos. Primo Levi, que viria a falecer em consequência de uma queda na escada do prédio onde vivia, sobreviveu ao campo de concentração. Sobreviveu porque no meio do azar, teve sorte. Sorte por ter apanhado escarlatina e não ter sido encaminhado para a caminhada da morte , sorte por ter conhecimentos de química e ter conseguido manter-se quente no laboratório para onde foi desti...