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(parte 2)

A receita de sucesso para a elaboração de um livro parece ser a demanda de muitas das pessoas que se inscrevem nos cursos de escrita criativa, eventos cada vez mais frequentes entre a oferta cultural disponível. Mas faltav dar resposta aos que, não tendo disponibilidade ou vontade para a frequência de um curso regular, gostariam de ver em letra de forma algumas das técnicas e segredos que ajudaram a definir tal receita milagrosa que todos procuram.

Sonia Belloto, autora do manual "Como Escrever um Livro e Conseguir que um Editor o Publique", recentemente publicado pela Texto Editores, é também directora da escola brasileira Fábrica dos Textos e acredita que o esforço e a dedicação podem fazer a diferença entre um bom e um mau escritor. Nos últimos anos tem-se dedicado a um programa de escrita criativa que permita aos alunos ultrapassarem algumas inibições e desenvolverem técnicas de expressão eficazes para a construção de uma boa história. Neste manual que agora se disponibiliza, os que sonham ascender à categoria de escritores podem encontrar vários conselhos úteis, exemplos claros de como resolver determinado problema narrativo e modos simples de construir personagens e situações.

Mas, será possível que uma escola de escrita criativa transforme os alunos em escritores profissionais se não houver algumas condições prévias? E uma manual de escrita, pode assumir esse papel? Em conversa com a OML, Sonia Belloto explica o seu ponto de vista sobre o aperfeiçoamento possível em termos de aprendizagens das técnicas de escrita: "Na minha opinião, não existem histórias desinteressantes, mas sim, formas desinteressantes de se contar uma história. E isso pode aprender-se e desenvolver-se, porque não basta ter talento, é preciso desenvolver esse talento com disciplina, dedicação e técnica. Não basta ter boas ideias, como por vezes se pensa".


Eu penso que para se escrever é preciso ter amor à escrita, ter lido muito, e ter personalidade na forma como se escreve. Ninguém se torna escritor só porque se quer muito. Ou melhor, por vezes sim, mas isso já depende do escritor que se quer ser. Neste momento estamos como na música querer é, por vezes, poder; mas isso não significa que exista qualidade.

A escrita é algo muito pessoal que se dá de uma forma única. É uma dádiva que se vai tornar pessoal também para quem o lê. E aí sim se destinguem os bons dos "mais ou menos". Se quando leio torno o livro meu é porque se trata de um bom escritor, se quando leio apenas assisto a um desenrolar de acontecimentos, pode servir para descontrair, mas não é um bom livro. Já li centenas de livros, mas bem poucos são os que recordo ou volto a ler, esses, para mim, são os bons escritores. A escrita até pode ser partilhada, mas a forma como a recebemos é sempre individual e muito egoísta. Daí que considere que tudo o que é fórmula pode ser aplicado por todos, mas apenas alguns o vão conseguir com sucesso e para isso não são precisas teorias, apenas sentir cada letra como um conjunto do que se quer transmitir. Não importa o que se quer transmitir, importa que seja de cada um autênticamente. Tudo o resto são embelezamentos que de nada servirão se não se tiver o que adornar.

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