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Editorial Presença (parte 1)


Como é que foi parar ao mundo dos livros?


Desde muito cedo que penso em livros, cheguei a estar envolvido num projecto de tradução com um colega de arquitectura. Eu era um leitor inveterado e foi através de um contacto com um livreiro, o António Barata, de quem era cliente. A certa altura, falei-lhe no meu interesse em fazer uma editora. Ele tinha tido uma editora (embora com outras características) e disse-me: se pensar nisso, eu vou consigo. E assim nasceu a Editorial Presença (EP), nós fomos sócios.

Eu tinha necessidade desse apoio porque os meus conhecimentos relativamente à parte mais prática do negócio eram escassos. Foi uma sociedade que correu muito bem, quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista funcional. É claro que ele teve um papel muito importante ao pensarmos na rede de distribuição e outras questões, mas depois dessa fase, ele entregou-me tudo e eu passei a ser o editor em todas as vertentes, ou seja, tanto ao pensar nos projectos editoriais, como na própria editora enquanto empresa.



De que modo descrevia a linha editorial da EP?


Estávamos então num tempo muito marcado por linhas editoriais que se diferenciavam claramente. Ou seja, havia áreas com uma vocação muito à Esquerda, em que a preocupação era com alguns laivos de marxismo, e com as diversas facetas que com ele tinham afinidade, como o neo-realismo. Havia um caso especial que era Moraes, uma editora que representava o catolicismo progressista, e depois havia aquelas que se identificavam mais proximamente com o regime.

A EP pode ser considerada heterodoxa, começa a publicar Sartre, Samuel Beckett, autores que eram claramente progressistas. Era uma linha que assinalava alguma diferença, numa divisão do mundo dividido que imperava. Não sendo uma visão de terceira via (como a expressão é hoje entendida), era uma nova linha de progresso da visão do mundo e da estética.



Qual foi o primeiro livro que editaram?


Penso que foi uma peça de teatro de Sartre, chamada Kean. Depois publicámos muita coisa de teatro, como Arthur Miller ou Tchekov. Também aí surgiu com algumas marcas próprias, o teatro era uma coisa que quase não se via na actividade editorial.


in Os Meus Livros

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