
Victor é um dos dois mil alunos portugueses abrangidos pelo PIEF. "A bolsa que nós damos tem como objectivo que os encarregados de educação deixem de ter despesas adicionais com os filhos, no seu regresso à escola", explica Fernando Coelho, coordenador da zona Norte do PEETI, o Plano para a Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil. "Queremos motivá-los a sair de empregos precários e aliciá-los a fazer a escolaridade mínima obrigatória para terem um futuro melhor". Os alunos integrados no programa passam a ser acompanhados, de perto, por uma equipa de monitores, psicólogos e assistentes sociais. "Os casos de insucesso são muito reduzidos, felizmente", diz Fernando Coelho.
As gémeas Lisandra e Ana, de 17 anos, são o caso emblemático de sucesso deste programa de combate ao abandono escolar. Prestes a terminar o 9º ano, na Escola Secundária Santos Simões, em Guimarães, as irmãs de Santo Tirso em breve irão começar um curso de formação. Uma como cabeleireira, a outra como esteticista. "Vamo-nos separar pela primeira vez", dizem entre risos.
Para trás fica o trabalho repetitivo de 60 horas semanais numa fábrica de confecções, onde ganhavam 2,5 euros à hora, durante a semana, e mais 50 cêntimos aos fins-de-semana. "Dobrávamos lençóis para uns sacos", lembram. A grande fatia do salário ia direitinha para a família, compensando a baixa do pai, por depressão, e o parco salário da mãe numa empresa de vestuário. Com o dinheiro ganho nas horas extras podiam comprar vestidos e carregar o telemóvel - que não pára de dar sinais de SMS dos namorados e amigas. "Tínhamos uma vida boa", suspira Lisandra, a mais conformada.
Uma denúncia anónima terminou, porém, com a experiência laboral. Pouco tempo depois, a fábrica falia e fechava portas. Elas ainda trabalharam noutras empresas de confecção, embora por pouco tempo e menos dinheiro. As equipas ambulatórias do PEETI detectaram o caso e, com o acordo tácito da mãe, as "teenagers" regressaram à escola. "Se faltarmos três vezes sabemos que corremos o risco de perder a bolsa de 50 euros", contam as duas jovens, que também se imitam na quantidade de notas elevadas no final deste período. Aos 17 anos, aprenderam finalmente o significado da palavra ambição. A infância perdida é agora só uma lembrança amarga.
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