"O caderno de Maya", de Isabel Allende voltou a conquistar-me, a sua escrita tão realista com o apimentar da cultura chilena é sempre um misto de curiosidade e realidade. Desta vez relata-nos a história de Maya Vidal, uma adolescente com problemas de dependência e com uma família muito peculiar. Este relato é feito na 1ª pessoa, como quem escreve um diário, Maya descobre os prazeres da escrita e descobre-se nas adversidades da sua história e faz história. Não sendo uma história verídica, poderia sê-lo, com marcas de modernidade e emocões facilmente identificadas como nossas, a ocorrências desfazem-se entre laços de gerações e marcas generosas de amor. Não sendo um livro lamechas, é sem dúvida o estilo de Isabel Allende. Pela mão dela conhecemos Chiloé, com os seus hábitos e gentes, com os seus vícios e virtudes, com a chama da vida que se herda em atos contínuos de erros culturais e tradições milenares. Porque assim é a vida...mais uma vez, fiquei rendida ao seu discurso e pela forma tão natural como interpretou esta adolescente dos nossos dias e foi capaz de descrever o mundo esquecido e a realidade crua do mundo da droga e dos seus eternos caprichos na colheita da vida humana.
"Mas Manuel, imperturbável, continuou a ler com a sua lanterna de mineiro na testa.
- É apenas o vento, mulher, quando a terra treme caem as panelas.
Nesse momento chegou Azucena Corrales, a escorrer água, com um poncho de plástico e botas de pescador, a pedir socorro porque o pai estava muito mal. Por causa da fúria da tempestade, os telemóveis não tinham rede e caminhar até à aldeia era impossível. Manuel pôs o impermeável, o chapéu e as botas, pegou na lanterna e preparou-se para sair. Eu parti atrás dele, não estava disposta a ficar sozinha com os morcegos e o vendaval."
De salientar que é uma boa edição da Porto Editora, em que apenas detetei 2 erros. A capa apresenta-nos a personagem e as páginas não se soltam com o manuseamento do livro.
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