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A quinta-feira dos pássaros

O livro de que vos vou falar foi comprado em desespero de causa. Viajo muito e, normalmente, a minha companhia resume-se aos livros que devoro nas horas de espera ou para me abstrair de meios de transporte que não me agradam. Assim, e fazendo mal as contas ao meu ritmo de leitura deixei que me acabasse o livro numa ilha sem muitos recursos para onde fui de férias.
Corri tudo o que foram lojas ou superficies comerciais que me pudessem saciar o vicio, mas nada... começava a ficar desesperada... até que dei com uma papelaria multifunções! Entrei com desconfiança e apercebi-me que não existia qualquer tipo de lógica na organização dos livros (ou até mesmo amostras de), pelo que entretive-me um tempinho a tentar perceber se existia alguma coisa que valesse a pena.
Excluindo os clássicos escolares que tão bem conheço ficava com pouca opção de escolha, mas lendo um bocadinho daqui e informações de autores dali, a senhora da loja que queria ir almoçar apressou a minha escolha: A quinta-feira dos pássaros, de Paulo Assim. Não conhecia o autor, mas agradou-me a curta biografia presente no livro:
 
Paulo Assim é o pseudónimo de Paulo Carreira.
Nasceu em 1965, numa aldeia no concelho de Porto de Mós. Reside, atualmente, na vila da Batalha. Exerce a profissão de desenhador de moldes, profissão que requer muito esforço mental e muita disciplina. É uma profissão que ensina a ser persistente, e que a teimosia vale a pena.
Escreve, também, poesia e conto, modalidades que já lhe valeram vários prémios literários.
A escrita, as palavras fascinam-no. O que lhe agrada nas palavras escritas, mais do que nas palavras faladas, é poder brincar com elas e ao mesmo tempo expressar coisas sérias. Ou quase sérias. Ou quase, quase sérias.
 
 
Levei-o e tratei de o iniciar no mesmo dia. Trata-se da revelação de um Portugal nas vésperas da revolução de abril, mas pelos olhos de uma criança sonhadora e autêntica. Tudo está presente e simplificado pelo mundo infantil e enternecedor da descoberta. Uma escrita simples e fluída que nos dá momentos de descontração e de comparação entre o que foi e o que temos. Acreditem, não estamos muito longe do descrito neste livro.
 
"- Página cento e vinte e dois, se fazem favor - disse a professora, batendo na secretária para fazer calar os alunos. - Silêncio!
A mão heptadáctila no ar, os olhos de coruja no infinito, Nicolau e os colegas a desfolharem o livro de leitura, procurando a página 122. Nicolau leu para si «Símbolos da Pátria». Quem iria ler esta lição?... Manuel, precisamente o seu colega de carteira. Como se sabe, o Manuel era gago, no entanto gaguejava pouco ou quase nada quando lia. A professora Balbina gostava de o fazer ler, assim como obrigava os canhotos a escrever com a mão direita. Naquela classe, os canhotos praticamente já se haviam esquecido que eram canhotos, à força da verdasca. Assim como o Manuel às vezes se esquecia que era gago. Só os colegas, no recreio, o faziam lembrar."

Comentários

Paulo Assim disse…
Obrigado, «Vidinha».
É um prazer imenso ler coisas assim.
:)
Paulo

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Andei a ler este livro, terminei-o há 2 dias e tive uma grande desilusão. Bem, é certo que eu já não tinha gostado de "O Diário de Anne Frank", por isso, também não gostei deste. Passei o livro todo a pensar que a jovem era normalíssima apesar de viver no regime de Estaline. As preocupações eram as mesmas de qualquer jovem com a idade dela, aliás até a achei um pouco acriançada dadas as circunstâncias e os seus 18 anos de idade. Enfim, um fiasco! Não consigo gostar mesmo, porque fico sempre à espera de detalhes e pensamentos que eu acharia próprios da época e do contexto e acabo por achar que as jovens sofreram um bocado sim, mas isso não as fez diferentes da grande maioria dos jovens de hoje com a mesma idade, inclusivê esta abusa do egocentrismo e preocupação estética de uma forma quase doentia. Gostaria de ter mais para dizer, mas de facto, o livro não me despertou grande atenção. Na minha opinião: não comprem!

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