Depois de ter lido há relativamente pouco tempo o Inocência Perdida e os Bebés de Auschwitz estava a precisar de algo mais suave, mas como o livro foi emprestado por uma colega resolvi dedicar-me a esta leitura.
Fiquei mais uma vez surpreendida pelo meu desconhecimento do mundo e dos humanos. Quem viveu uma Segunda Guerra Mundial, este mundo devia ter mais juízo. Uma coisa é, esporadicamente, ouvirmos umas notícias acerca da Coreia do Norte e acharmos que são todos loucos; outra coisa é lermos este relato na 1.ª pessoa e pensar "Que sorte que eu tenho de ter nascido em Portugal!"
O livro espantou-me pela amplitude que tem. A descrição da vida na Coreia do Norte é atroz e confesso que inicialmente achei que era um pouco fantasiosa.
É um livro biográfico. A autora, mulher de força, descreve com uma simplicidade de quem viveu as inúmeras carências de uma infância e adolescência perdidas, e arrasta-nos para uma espiral de sofrimento e ... pasmem-se: esperança.
Ela nasceu e passou a infância na Coreia do Norte, onde os seus pais, como forma de sobrevivência, se dedicavam ao contrabando. Reflete a profunda ligação que une a família, composta também por uma irmã (que também tem um livro editado, mas que ainda não li). A adversidade trouxe-lhes uma ligação profunda e inquebrável.
Ao entrar na adolescência e na esperança de escapar à fome, decidem, ela e a mãe, fugir para a China (a irmã mais velha já tinha fugido e estava desaparecida). Na Coreia do Norte ninguém pode decidir mudar de país só porque lhes apetece, esta fuga é uma traição ao ditador, e os traficantes humanos valem-se disso para prosperar num negócio ilícito de esposas escravas. As mulheres chegam à China, são, muitas vezes, violadas, vendidas a esposos que não conhecem e sacrificadas pela sua fraca condição de desertoras. Devido às políticas entre estes dois países, elas não são consideradas refugiadas e, se apanhadas, são repatriadas para a Coreia do Norte, com todo o mal que isso acarreta. Com a sua fuga, Yeonmi e a mãe, colocaram a vida de toda a restante família em risco e, todos eles, perderam empregos ou foram impossibilitados de ascender a uma classe superior.
Depois da China, estas mulheres conhecem uma rede clandestina, fundada à luz do cristianismo, que lhes possibilita a entrada na Coreia do Sul, mais uma vez por um trilho clandestino. Lá são, finalmente, consideradas refugiadas e conhecem o sabor da liberdade (sobretudo a de pensamento).
A autora, em busca da sua irmã, torna-se um símbolo da coragem e dá voz ao sofrimento do povo da Coreia do Norte.
Hoje, estou mais atenta ao que se passa nesse país, sobretudo por tudo aquilo que o povo não consegue conhecer, nem sonhar. Não pensem que o livro está desatualizado. É de 2015!!!
Agora apetece-me perguntar: O que se passa com o mundo? Como é que nós conseguimos viver neste mundo sabendo que há um país, onde o tempo parou e todos os seus habitantes idolatram um líder completamente lunático, onde não há liberdade, nem sequer de pensar!!!
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