Avançar para o conteúdo principal

Loanda - Escravas, Donas e Senhoras, de Isabel Valadão

Olá, mais uma leitura terminada!

Loanda... não conhecia a autora, não vi reviews, nem li sinopses... nada. Em branco. Adivinhava que retratasse a época do esclavagismo. Não me enganei.
Num ambiente tipicamente masculino sobressaem duas mulheres, Maria Ortega e Anna de São Miguel, que mais tarde se tornarão Maria e Anna e Ana Maria.
Vou explicar. A narrativa começa com Maria Ortega, escrava alforriada, degredada. Sedutora, Maria Ortega vale-se do Diabo para se valer melhor e o Diabo convence-a e modera-a num mundo em que a religião censura e pune sem clemência.
Anna de São Miguel, menina mimada, criada pelo pai para ser fidalga. Ousada, atrevida numa sociedade que a remete para um papel muito concreto. Esta narrativa introduz-se como biografia. Ambas narram, até que as suas histórias se confundem e se cruzam pelo amor e pela audácia de saber amar, de saber fazê-lo pelo prazer.
Descobrem-se no mesmo mundo cumprindo a sua missão sem saberem do seu destino. Desafiam regras, mostram força, vivem intensamente... e mais não posso dizer sem ser spoiler.
O que menos gostei foi o facto da autora repetir várias vezes os mesmos acontecimentos e o facto da minha edição ter uma letra minúscula, que me cansava.

"- Dona Anna! Sois mesmo vós, minha Senhora? - O rosto da preta iluminou-se num sorriso de dentes muito brancos. Abriu completamente a porta, franqueando a passagem a Anna e Maria para o átrio, que continuava exatamente como ela o tinha deixado. À medida que ouviam a sua voz, iam aparecendo os seus antigos criados, quase todos os que não a tinham acompanhado para Massangano.
- Mas, o que é isto? Todos vocês aqui continuaram, mesmo sozinhos? E os holandeses não vos incomodaram, nem assaltaram a casa? - Anna estava estupefacta.
- Não Senhora, nós inventamos uma estória, de que nossos amos também eram mafulos, estavam na Holanda, mas que iriam voltar em breve! Deixámos que os outros mafulos entrassem, comessem e bebessem e que dormissem até, com algumas das buxilas mais novas, que são as mais cobiçadas pelo homem branco, seja ele português, espanhol ou holandês. Criaram o hábito de voltar, sempre que queriam, como se isto fosse um bordel, mas mais asseado do que os da Ingombota e dos Coqueiros e com uma despensa cheia de comida e bebida. Claro que tínhamos de ir aprovisionando mas, com os armazéns abandonados e a saque, não era muito difícil arranjar os restos que os mafulos iam deixando. Nós fomos aqui ficando, porque sempre era mais seguro do que embrenharmo-nos pelo sertão, arriscando-nos a ser devorados pelas feras ou novamente capturados como escravos!"



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Eu Quero Viver - Nina Lugovskaia

Andei a ler este livro, terminei-o há 2 dias e tive uma grande desilusão. Bem, é certo que eu já não tinha gostado de "O Diário de Anne Frank", por isso, também não gostei deste. Passei o livro todo a pensar que a jovem era normalíssima apesar de viver no regime de Estaline. As preocupações eram as mesmas de qualquer jovem com a idade dela, aliás até a achei um pouco acriançada dadas as circunstâncias e os seus 18 anos de idade. Enfim, um fiasco! Não consigo gostar mesmo, porque fico sempre à espera de detalhes e pensamentos que eu acharia próprios da época e do contexto e acabo por achar que as jovens sofreram um bocado sim, mas isso não as fez diferentes da grande maioria dos jovens de hoje com a mesma idade, inclusivê esta abusa do egocentrismo e preocupação estética de uma forma quase doentia. Gostaria de ter mais para dizer, mas de facto, o livro não me despertou grande atenção. Na minha opinião: não comprem!

O tamanho

Sempre fui baixinha, o que se nota mais porque os meus namorados sempre foram altos e pelo meu tremendo complexo de inferioridade. lol O certo é que os outros acabam por achar graça e serve muitas vezes para brincadeira. As pessoas não sabem, mas também não dá jeito nenhum, especialmente porque muitas vezes não consigo ver o que me querem mostrar... a não ser que me dêm colinho! lol O que acaba por não ser uma má opção... no entanto, não há que enganar, tenho 1,60 m bem concentradinhos, cheios de personalidade... o que também causa o efeito surpresa! E depois tenho sempre a safa: "És grande, mas não és grande coisa!". Por via das dúvidas, a próxima vez que for ver um espectáculo dos meus alunos, acho melhor usar o modelito da imagem... sempre vejo qualquer coisita!

D. Sebastião e o vidente, de Deana Barroqueiro

É um calhamaço!! Conta com 629 páginas, rebuscadas, com um vocabulário erudito, muitas personagens, mas ... fascinante! Este livro, obviamente, relata a história de vida de D. Sebastião com todos os pormenores, desde a mãe que o deixou, à sua deformidade física, ao seu caráter, bravura... Assim, este pequeno rei, em tamanho e em idade, demonstrou a sua infantilidade nos rasgos de bravura. Inocente, sonhava com a guerra, mas soube antever os interesseiros que lhe apareceram pelo caminho. Existe também Miguel, um menino que nasceu no mesmo dia que ele e que o acompanha ao longo da história, mas que acaba por nunca conseguir aproximar-se o suficiente. É ele o vidente do título, mas a sua personagem acaba por não ser muito "útil", uma vez que é incapaz de mudar o rumo dos acontecimentos, limita-se a admirá-lo ao ponto de o acompanhar à morte. Quem não conhece D. Sebastião, o desejado, aquele que desapareceu em Alcácer Quibir e que regressará envolto no nevoeiro. Cá te es...