Já andava na minha prateleira há algum tempo, mas eu não me decidia. O tema agradava-me, mas tinha medo de me dececionar. Temia que fosse demasiado filosófico... Comecei e já não parei. Não é uma leitura simples, mas também não é um quebra-cabeças.
Primo Levi, judeu italiano, apanhado pela máquina nazi, foi capturado em Auschwitz. Este o nome que ninguém deveria esquecer, para que nunca nos esqueçamos que o ser humano consegue ser animalesco pela sobrevivência e pelo poder da crueldade. Convenhamos que, ninguém, com um mínimo de valores, conseguirá tratar desta forma outro ser humano diariamente, durante anos. Primo Levi, que viria a falecer em consequência de uma queda na escada do prédio onde vivia, sobreviveu ao campo de concentração. Sobreviveu porque no meio do azar, teve sorte. Sorte por ter apanhado escarlatina e não ter sido encaminhado para a caminhada da morte, sorte por ter conhecimentos de química e ter conseguido manter-se quente no laboratório para onde foi destinado após algum tempo no campo e sorte por ter conseguido regressar do inferno.
Este livro são as suas memórias, as suas considerações e descrições grotescas de Auschwitz: a quanto um homem pode chegar pela sobrevivência, a quanto um homem pode chegar pelo poder, a quanto um homem pode chegar pela crueldade da sua mão.
"A fama de sedutor, de «organizador», provoca, ao mesmo tempo, inveja, escárnio, desprezo e admiração. Quem deixa que o vejam enquanto come qualquer coisa de «organizado», é julgado muito severamente; trata-se de uma grande falta de pudor e diplomacia, além de uma evidente estupidez. Igualmente estúpido e impertinente seria perguntar «quem to deu?, onde o encontraste?, como conseguiste?»"
10.ª edição, Teorema,183 páginas
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