
Geralmente, as mulheres gostam de ir ao cabeleireiro. Eu não. Fico como se fosse ao dentista. Não me rio, não ouso abrir a boca e fico hirta como uma pedra. Até parece que o pescoço emperrou.
Aqui ao pé de minha casa há dois desses estabelecimentos, de onde as mulheres saem a sorrir e a sentir-se mais bonitas, eu saio deprimida e a jurar que para a próxima rapo o cabelo.
Para fazer a experiência de qual seria o melhor experimentei os dois. Sabem qual foi o resultado? Não gostei de nenhum. Enfim...passo a explicar.
O Primeiro
Escondidinho, numa esquina. Quase que não dava por ele.
Gosto de recantos. Têm menos gente não me fazem sentir que me vão levar os olhos da cara pa ficar com uma cabeça bonita.
Entrei. A dona, perto dos 30 olhou-me e sorriu-me.
Bom começo. Sorriso aberto, hospitaleiro e sem presunções.
Tive azar: andavam em limpezas. Tapetes enrolados pelo chão, taçinhas em desalinho.
Fez que não era nada de anormal. Pediu-me que aguardasse um instante. Estava ao telefone com um fornecedor.
Olhei para o sofázito. Já conheceu meljores dias. Com alguns retalhos a adivinhar-se a espuma, de um branco outrora alvo. Não me fiz rogada. Sentei-me.
Decorria uma conversa sobre uma ilustre desconhecida (para mim) que tinha aceitado ficar ao lado de um homem que não queria ter filhos e por isso se sentia frustrada. As mulheres etavam num reboliço de indignação sobre o infame homem. Cometeu um atentado contra o seu instinto maternal da generalidade das presentes.
Fui atendida de seguida. Não começou mal. Soube-me bem a lavagem.
Passei para o pedestal de cadeira. Desta feita com bom aspecto. Prosseguia a mesma conversa. Entre puxões e repelões de cabelo lá fui concordando para não parecer antipática logo na primeira visita. Mas o que eu queria mesmo era abster-me, apesar de gostar de ouvir falar. Fazia com que não me sentisse um E. T.
Seguiu-se o corte, depois de ter explicado ao que vinha. A jovem ia-se despachando como se me adivinhasse os pensamentos e passamos da vida da "outra" para a Floribella. Mais uma vez o instinto maternal deixava adivinhar as torturas de filhos pequenos.
Confiei no corte. Ela era jovem, sabia o que eu queria.
Prontinha!
Não ficou mal. No campo do razoável.
Paguei. Ajeitou-me o casaco desalinhado.
Fez-me sentir bem recebida.
Talvez volte.
Boas limpezas.
Ainda hoje me cumprimenta na rua.
Segundo
No centro de uma curva de rotunda. Com ares de sofisticado, bem apresentado, com meninas de farda a condizer.
Depois de ponderar: entrei.
Fui recebida com algum desleixo. Após dizer boa tarde tive de esperar 3 minuto que se diganassem a responder e com um olhar de: "Quem é esta?".
- "Aguarde."
Sentei-me no sofá preto impecável desejando ter saído. Ouvia as conversas coquettes enquanto lia uma revista só para "mulheres louras e afins".
Já se despachavam! Oh não! Entrou uma "super tia" com um daqueles cães a pilhas sem olhos e com ares de donos.
-"É para fazer o buço. Será que dá ou volto mais tarde?"
Na minha terra seria:
- "Vim fazer o bigode. Demora muito ou faz serão?"
Veio e foi sem um Boa-tarde. A educação ficou na barriga da mãe com toda a certeza. Pobrezinhos, mas educadinhos.
- "Podes vir."
Mau! Fomos juntas à tropa?
A água corre e a jovem deve estar a pensar no meu cabelo como se fosse umas calças de ganga. Lava a roupa com tanta delicadeza?
Passo à próxima etapa.
Uma senhora que me parece a que mais manda, apresenta uma barriga considerável.
Explico-lhe quase com reverência o que pretendo. Depois de mais algumas inicia o trabalho com um modo contrariado, mas pelo menos delicado. Deve ser da gravidez!
Depois de alguns minutos ensaia uns sorrisos que nem chegam a adivinhar o serviço do dentista.
Correu bem, apesar de um pouco "à betinha".
Satisfeita com a cabeça enfeitada e muito in.
Paguei. Foi mais caro.
Não sei se volto.
Bem! Por qual me decido na próxima vez?
Acho que depende do estado de espírito.
E vocês o que acham?
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