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Morreu

Ao longo da muralha que habitamos

Há palavras de vida há palavras de morte

Há palavras imensas,que esperam por nós

E outras frágeis,que deixaram de esperar

Há palavras acesas como barcos

E há palavras homens,palavras que guardam

O seu segredo e a sua posição


Entre nós e as palavras,surdamente,

As mãos e as paredes de Elsenor


E há palavras e nocturnas palavras gemidos

Palavras que nos sobem ilegíveis À boca

Palavras diamantes palavras nunca escritas

Palavras impossíveis de escrever

Por não termos connosco cordas de violinos

Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar

E os braços dos amantes escrevem muito alto

Muito além da azul onde oxidados morrem

Palavras maternais só sombra só soluço

Só espasmos só amor só solidão desfeita


Entre nós e as palavras, os emparedados

E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.


Mário Cesariny
Morreu um grande escritor, pintor... artista. Homem da cultura faleceu hoje sem que o mundo chorasse a sua perda. Os serviços de informação puseram uma notícia no ar com um minuto de duração (se tanto) em que apenas conseguiram repetir 3 vezes que este era um artista do surrealismo.
Pena é, que a cultura em Portugal ande neste caos. Que o défice e a Srª Ministra apareçam todos os dias com largo tempo de antena e que hoje, Domingo soalheiro e enlutado pela morte de um grande Sr. se tenha feito silêncio e não se descanse do mal de todos os dias.
A um grande Sr. a minha homenagem.

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