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Escritos

Quando estudava no secundário às vezes enganava os professores nas aulas chatas e escrevia:

Doces caminhos que não andei…percorro o céu, percorro a lua, o sol, o amor, a dor… a dor… onde tudo começa e acaba, o meu doce fogo, o meu doce mar de contrariedades absolutas e mansas trancadas nestes caminhos que decoro como um animal insaciável de uma sociedade já tantas vezes decorada e ensinada. Eu sou a minha sociedade, a nossa sociedade, cheia de podres e de todos os passos em função de uma ilusão infinita de conhecer o caminho já tantas vezes percorrido pelos sinuosos sonhos da solidão unida deste mundo em que me afundo, deste mundo de palavras surdas e silêncios mudos. Tudo é bonito, cheio de cor, feito à medida da tua imaginação, do teu destino incontrolado pela ordem imposta do não movimento, dos doces caminhos que ficarão por percorrer… vamos todos dar a volta ao mundo pelos caminhos que não andámos e conhecer tudo aquilo que não conhecemos nesses caminhos decorados.

Quero a raiva! o caos! o apocalipse total da raça humana! … o ódio!! a saudade!! a solidão!!! … a dor…

Quero tudo e nada, quero a fome perturbada de famintos saciados, quero o sangue da desordem… quero o discurso alucinado daquilo que não vou ser e o silêncio mudo do grito que não dei. A loucura do abstracto.

Ai tenho tanta saudade de mim…de tudo o que não fiz, de todos os doces caminhos que não andei, do céu, da lua, do sol, do amor… da dor, onde tudo acaba e começa sem sentido…

Papá! … mamã… dêem-me a mão e ensinem-me a andar neste mundo de gente com quem não me ensinaste a falar, neste mundo de máquinas que não quis conhecer…

Papá!... Mamã! Ensinem-me a caminhar para a frente, porque eu só quero andar para trás…

Ass: alguém que não nasceu.

Agora é mais actas e relatórios….

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