Terminei a leitura deste título que muito me agradou. Tal como a autora, Mario Zimmer Bradley, já nos habituou estamos perante um livro que defende a figura feminina de forma arrebatadora. Desta feita temos Cassandra, jovem profetisa insatisfeita com o papel social da mulher, mas que não pode deixar de o ser. Ela é filha do rei Príamo, obcecado pela defesa da cidade de Troia, mas que não ouve as mensagens dos Deuses por virem da boca de uma mulher. Gémea de Páris que é pastor e gémeo abandonado devido a um culto de que filhos gémeos trazem azar. Ela vê pelos seus olhos, o que não lhe garante uma maior aproximação do irmão quando finalmente é reconhecido pelo Rei - pai. Pela sua insatisfação é criada pelas amazonas, mulheres guerreiras que não arriscam a presença masculina para além da reprodução, mas que pela fraqueza feminina e guerra masculina acabam por ser exterminandas.
Cassandra sucumbe à beleza de Eneias quando tinha prometido a sua virgindade ao Deus Sol, acaba por ter um filho do inimigo de seu pai, mas no final cria um novo reino com um respeitador profeta, a quem foi conferida essa tarefa.
Quase todos os homens morrem numa guerra iniciada pelo rapto da mulher Helena, que encarna Afrodite, deusa do amor. No final quase todas as mulheres sofrem os dissabores dessas perdas.
Uma escrita forte, com imagens violentas e enternecedoras que tão bem se misturam com a história e com o mito.
A edição é da DIFEL, mas contém alguns erros ortográficos e de troca de personagens. Foi adquirido numa feira do livro por apenas 4 euros. Recomenda-se a leitura das excelentes 454 páginas.
"Mas as mulheres começavam a despertar e, em poucos instantes, as vozes e o movimento à sua volta abalaram a tranquilidade de que necessitava para se manter no estado que lhe permitia segui-lo. Levantou-se, apenas ligeiramente desapontada, e correu a buscar a sua égua.
Nos dois dias seguintes, por uma ou duas vezes conseguiu vislumbrar o seu irmão conduzindo o touro engalanado, atravessando um rio (onde estragou as sandálias) e juntando-se a outros viajantes que conduziam gado enfeitado como o seu touro; mas nenhum dos animais era tão puro e tão belo."
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