Terminei esta leitura e gostei. O morto, o Sr. Napumoceno proporcionou-me cenas de rir, de choro, de ironia e de malvadez. Em vida, teve uma "sorte dos diabos", em morte continuou a fazer valer as suas vontades como quem as viveu. Este autor proporciona um tom irónico e humorístico que nos aproxima das personagens e nos faz "ver" segundo a sua forma de estar na vida.
O morto fez a sua riqueza à custa de um engano seu na encomenda de guarda-chuvas, numa terra onde raramente chove. Consegue um sobrinho que trabalha por si, mas que lhe está sempre em dívida. Conhece o amor despudorado por uma mulher com quem nunca assume uma relação e tem uma filha da senhora da limpeza da saia verde.
Dá e tira como lhe convém. Evolui e reserva-se conforme os seus apetites. Vive como quer e ambiciona viver de outra forma.
"Dizia-se que andava adoentado, a velhice não perdoa a ninguém. Mas muito bom homem. Porém, sobre Adélia nenhuma informação. Os mais velhos falaram de facto de uma antiga Adélia que desaparecera do Monte, não se sabia para onde. Sim, uma rapariguinha magrinha, sempre sorridente e de olhos grilidos. Há anos que não era vista por aqueles lados. Embarcada? Talvez! Inclusive porque o namorado era emigrante. Mas se tivesse casado as pessoas ficariam a saber, não é? O Sr. Araújo por aqueles lados? Sim, nos primeiros tempos que ele mandara vir o carro costumava passar no espadona, o carro mais bonito e limpo de S. Vicente, que a gente nem se atrevia a encostar-lhe a mão. Mas depois deixara, se calhar começara a passear por outros lados. E assim sucessivamente, Graça percorreu o Monte e depois Monte Sossego. E acabou por lembrar-se de perguntar à mãe quem poderia ser a Adélia a quem o Sr. Napumoceno deixara um legado. Porém, a mãe apenas soube sugerir alguma enfermeira que lhe tivesse dado uma injeção."
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