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Mensagens

Mariza Terra

Quando escrevo tenho tndência para iniciar os textos com saudade ou solidão. Escrevo em forma de catarse, de sonâmbulismo entediante como se não esperasse mais nada... Sou triste, tenho fado comigo e em lamento digo o que não canto aos outros. Amarga-me esta solidão saudosa e a preto e branco! Queria pintar com outras cores, sentir laranja, amarelo, vermelho, verde...

Se o mundo soubesse da nossa solidão, embrutecia o seu coração e devorava-nos nas entranhas das trevas permanentes. Se o mundo soubesse que não gostávamos de nós, amainava o seu cheiro e o seu fruto na ânsia do que não temos. Se o mundo soubesse que mesmo de olhos abertos já estamos ausentes guardaria a sua história apenas do início. Se o mundo soubesse que não somos nem nunca fomos deixaria de existir. Vidinha

Convento de Mafra

Mafra é digníssima de ver-se, de visitar-se por mais de uma vez, pela importante lição de história que ela ministra. A vila é pequena e pobre. O célebre edifício de D. João V ostenta a sua enorme corpulência quadrada e maciça no meio de uma vasta nudez fria e abatida. Ocupa uma área de 40.000 metros quadrados, tem quatro mil e quinhentas portas e janelas e duas torres de 69 metros de altura. Levou treze anos a fazer. A média dos operários empregados em cada dia na construção da obra monta a vinte mil. Uma só pedra, de que se fez a varanda da sala principal, levou seis dias a chegar de Pêro Pinheiro e foi puxada por 200 bois. Os paramentos, ainda hoje existentes e bordados a matiz sobre as mais belas sedas da Índia ou das melhores fábricas da Europa, são de tal modo sumptuosos que D. João V dizia haverem-lhe custado mais caro que todo o edifício! As festas da sagração duraram oito dias. No primeiro dia as solenidades religiosas começaram às 8 horas da manhã e acabaram às 5 da manhã do d...

Bela Estrela - Eugénio de Andrade

Terei talvez perdido a chave, e toda a gente ri à minha volta, cada qual mostrando-me uma chave enorme pendurada ao pescoço. Sou o único a não ter seja o que for para entrar. Todos desaparecem e as portas fechadas tornam as ruas mais tristes. Nem vivalma. Baterei a todas as portas. As injúrias choveram das janelas, enquanto me ia afastando. Então um pouco para lá da cidade, à beira de um rio e de um bosque, encontrei uma porta. Uma simples porta com bandeira e sem fechadura. Atrás dela, sob a noite sem janelas mas de longas cortinas, entre o bosque e o rio que me protegem, pude dormir.

Constantino - Alves Redol

Alves Redol cheira-me a Tejo, a lezíria, a touros bravos e tradição.Cheira-me a casa, traz-me a saudade do campo batido e sofrido dos grandes senhores. Alves Redol traz-me o meu Ribatejo! Conheci este escritor por prática de leitura já muito tardiamente, mas não mais o esqueci. É a minha casa que vejo descrita, as histórias que o meu avô recordava que vejo retratadas. Li "Constantino", um pequeno livro que retrata a infância antiga ribateja, com o gosto pelos toiros, pela vida solta do campo, mas com obrigações reais, com os meninos homens que não choram. Contantino é fruto da época. Menino travesso que ajuda na lida do campo, vive com os pais e uma avó que o ajuda a criar, mas que lhe incute muita responsabilidade. Recorda-nos as travessuras, os sonhos de descer o Tejo, as cosuvilheiras que lavavam a roupa no rio, a vergonha de não passar o exame da terceira classe... "É uma sonho vivo e maravilhoso! - Vamos armar aos pássaros? - pergunta-lhe o Manuel Coelho, que não go...

Entrevista - Camilo Castelo Branco

O vídeo acima representa o trabalho de um grupo de alunos sobre Camilo Castelo Branco, sobejamente conhecido pela obra obrigatória na escola "Amor de Perdição". O que muitos não sabem é que este Sr. fartou-se de escrever, quanto mais não seja porque foi o primeiro escritor a viver do ofício e tinha mulher e filhos para sustentar. Li esta há pouco "Mistérios de Lisboa III", que anda se consegue encontrar nas livrarias, mas não esperem ter a mesma sorte com outros títulos do autor. Podem até dizer que ele escrevia muito e que era uma "Margarida Rebelo Pinto" dos tempos idos, mas o que é certo é que me consegue prender da primeira à última página. A brincar aos sentimentos, a roçar o rídiculo, a cultivar a sociedade mediocre e fatalista. Eu gosto! Comecem pelo primeiro e sigam até ao terceiro. Verão que não se arrependem. Apimento-vos: "- Conta com a lealdade de seu marido... e não pode recear que as estrangeiras infelizes lhe questionem a posse... A duq...

Olho

Olhar no espelho e descobrir: o tempo, a têmpera, a marca, a máscara, o mesmo, o outro.

Papillon Trailer

Acabei há pouco de ler o Papillon. Foi o meu pai que me ofereceu, pois há muito tempo que me falava dele. Leu-o numa noite. Eu demorei um pouco mais, cerca de 2 semanas, mas lê-se muito bem e existem, de facto, alturas em que não se consegue parar. Enfim... gostei. Fala da história de um prisioneiro inocente e da sua condenação que não quer cumprir. Demonstra o preço que estamos dispostos a pagar pela liberdade, pela sobrevivência.. Aconselho a sua leitura e não se deixem desencorajar pelas muitas páginas do livro. Para mim, a melhor parte é aquela em que ele permance com a tribo de indios. Gostava que o autor tivesse vivido o suficiente para nos contar o depois da liberdade. Será que conheceu os seus indiozinhos? Como conheceu a mulher com quem casou? Como se inseriu em sociedade? Leiam!

A infância perdida (última parte)

Victor é um dos dois mil alunos portugueses abrangidos pelo PIEF. "A bolsa que nós damos tem como objectivo que os encarregados de educação deixem de ter despesas adicionais com os filhos, no seu regresso à escola", explica Fernando Coelho, coordenador da zona Norte do PEETI, o Plano para a Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil. "Queremos motivá-los a sair de empregos precários e aliciá-los a fazer a escolaridade mínima obrigatória para terem um futuro melhor" . Os alunos integrados no programa passam a ser acompanhados, de perto, por uma equipa de monitores, psicólogos e assistentes sociais. "Os casos de insucesso são muito reduzidos, felizmente", diz Fernando Coelho. As gémeas Lisandra e Ana, de 17 anos, são o caso emblemático de sucesso deste programa de combate ao abandono escolar. Prestes a terminar o 9º ano, na Escola Secundária Santos Simões, em Guimarães, as irmãs de Santo Tirso em breve irão começar um curso de formação. Uma como cabelei...

Consolo na Praia, Drummond (por Maitê Proença)- A infância perdida (parte 3)

No último ano, Victor decidiu parar de trabalhar em empresas de vão-de-escada, demasiado preocupadas a olhar para os seus lucros. Ousou sonhar: "Decidi que queria fazer um curso profissional de pintura de automóveis. É a minha grande paixão. E um dia quem sabe, gostava de ter a minha oficina". Agora tenta vencer numa turma do PIEF (Programa Integrado de Educação e Formação), na Trofa. Apesa de tudo, Victor não se arrepende do seu percurso profissional sinuoso. Até porque o trabalho foi um meio de fugir às más companhias da escola em Ribeirão. "Desisti no 7º ano, quando descobri que só tinha colegas que gostavam da má vida e enveredavam pelas drogas". Qualquer semelhança com os actuais companheiros de curso é pura coincidência. "Até a relação com os monitores é diferente. Aqui não há barreiras entre adultos e estudantes. Vamos todos juntos ao café ou à cantina". Hoje não ganha um salário de 400 euros, mas a bolsa de 75 euros permite-lhe dizer: "Já não ...

A infância perdida (continuação do post anterior)

Por onde passava, o Victor era sempre o elo mais fraco da cadeia. Como era o mais novo e com menos experiência, era quem recebia menos e trabalhava mais. "A minha mãe bem me dizia para eu negociar o salário antes de começar um novo emprego. Mas eu limitava-me a esperar o fim do mês para receber algum dinheiro" . Chegou a ser despedido depois de se magoar em trabalho, o que o obrigou a ficar em casa, de baixa, durante uma semana. "Não me queriam parado. Puseram-me na rua". Ironicamente, foi durante o primeiro emprego que recebeu o salário mais chorudo: cerca de 400 euros numa empresa de bombas hidráulicas, em Ribeirão, perto de Guimarães. "Depois foi sempre a descer" , recorda o rapaz de 17 anos que sustentava a casa, a meias com a mãe, uma empregada de limpeza. Nem sempre os 500 euros mensais que ela auferia eram suficientes para sustentar os 4 filhos. "Eu entregava-lhe todo o dinheiro que ganhava" , revela. "Mesmo que fossem só 100 euros...

Dogma Crew - Hijos del odio

Victor voltou a ter gozo em folhear os livros da escola. Na sua turma de nove alunos, é ele quem demonstra mais jeito para as artes manuais, uma das poucas heranças positivas deixadas pelos três anos em que esteve a trabalhar no duro. Aos 14 anos foi canalizador, trolha, padeiro e pintor numa oficina de automóveis. Conheceu patrões irascíveis, ganhou salários terceiro-mundistas e viu um amigo da sua idade a ficar por puco sem um braço, depois de um acidente de trabalho com uma máquina de 15 toneladas numa serralharia. "Pela primeira vez, percebi que não era obrigado a fazer tudo depressa só para agradar ao patrão".

A Pesca das Enguias

Aquele Inverno ameaçava ser rigoroso. A safra da pesca, no mar, terminara. Os poucos pescadores que não tinham abalado para terras estranhas, à procura do pão, esperavam que as águas do rio aumentassem com as chuvas, para tentarem a pesca da enguia. Fortes trovoadas traziam as primeiras águas barrentas, e, depois da isca preparada com fios de minhocas enroladas junto da chumbada, presas por um fio à ponta da cana, despreendidas das amarras os pequenos barcos, todos se preparavam para a colheita, que prometia ser farta. O Puxa e o Traga, latindo de satisfação, saltaram para as embracações dos donos. Os barcos deslizaram pela ria acima até que, escolhido o sítio conveniente, os fixaram com varas, e os pescadores, tirando as canas, começaram a faina. Mal a isca entrava na água, logo era puxada pelo peixe. A cana erguia-se a cada instante, atirando com as grossas enguias para o fundo do barco. Não havia memória de tanta abundância. Horas depois, no pequeno batel, avolumavam-se as enguias, ...

O sexo e a cidade - o filme

Fui estrear as salas de cinema de Castelo Branco, e digo estrear porque nunca lá tinha ido, mas muito cú já lá passou antes de mim. Bem, fui ver "O Sexo e a Cidade". Gostei muito do filme,era o que se esperava e superou as minhas expectativas. O namorado lá fez o frete, mas é certo e sabido que não gostou, já da série viu-a a sono solto. Sozinha! A aventura da ida ao cinema com a compra dos bilhetes, e a agradável surpresa que para a próxima só pago meio-bilhete se levar alguém comigo. (Há lá outro filme que promete!). Jantar de fast-food cravado ao respectivo e depois de umas voltitas onde descobri que não se faz roupa para baixinhas e muito menos sem mamas, lá fomos à sessão, pontualmente. Começou com 15 minutos de atraso, apagaram-se as luzes com cerca de oito pessoas na sala. As apresentações e a publicidade e a sala começa a encher, o filme começa a dar e eu logo no início da fila começo a pensar que afinal vim a uma aula de aeróbica, porque já o filme ia nos seus 15 min...
Dormias, os braços me estendeste e de surpresa rodeaste-me de insónia. Afastavas assim a noite desvelada em cima com a lua presa? Teu sonhar me envolvia, sonhando-me sem ti.

Bichos - Miguel Torga

É obra escolar e apesar de contos não representarem uma das minhas preferências, Miguel Torga faz parte delas. Li e gostei! Ainda bem que se torna uma das opções de ensino. A visão dos bichos, a sua semelhança aos seres pensantes, a animalidade que podemos ser... Bom! Suave, de leitura fácil, com muita oralidade... mais uma vez gostei e recomendo. "Irreprimível, uma onda de calor tapou-lhe o entendimento por um segundo. O corpo, inchado de raiva, empurrou as paredes do cubículo, num desespero de Sansão. Nada. Os muros eram resistentes, à prova de quanta força e de quanta justa indignação pudesse haver. Os homens, só assim: ou montados em cavalos velozes e defendidos por arame farpado, ou com sebes de cimento armado entre eles e a razão dos mais... Palmas e música lá fora. O Malhado dava gozo às senhorias... Um frémito de revolta arrepiou-lhe o pêlo. Dali a nada, ele. Ele, Miura, o rei da campina!" Miguel Torga in Bichos

Anjos e Demônios-Trailer-Oficial

Li, depois de muita insistência de parentes e amigos com pouca prática de leitura, o livro "Anjos e Demonios" de Dan Brown. Pensei que um livro que embrenhou na prática de leitura tantos que achavam monótono este acto, tinha mesmo que ser bom. Mesmo nunca me sentindo atraída pelo género e tendo algumas desconfianças acerca do autor, resolvi que tinha de saber o que é que o raio dos livros do Sr. tinham de tão especial. E querem saber o que descobri: nada! O filme é muito estilo "série de tv", não tem gosto a literatura. Faltou-me qualquer coisa. É certo que não o li com muito agrado, nem o iniciei com muita vontade, mas li. Maltinha agora preparem-se para as criticas, porque ate agora eu não sabia, não tinha lido.... "As únicas luzes eram os holofotes exteriores que iluminavam a fachada. Todas as pequenas janelas estavam às escuras. Os olhos de Langdon continuaram a subir. Mesmo no alto do torreão central, trinta metros acima do chão, exactamente por baixo da p...

Os miúdos do fio de nylon (parte 2)

O sorriso morre-lhes nos lábios com rapidez. Só o latido do Benfica, um rafeiro que guarda as galinhas e os gansos do quintal, os consegue distrair da tarefa penosa e repetitiva. "Cala-te cão", gritam à vez. E logo voltam a baixar a cabeça para os fios e agulhas. Há quase uma década que esta rotina tomou conta da família. De manhã levantam-se para coser. À noite, adormecem com dores nas costas de tanto coser. "Os miúdos ajudam-nos quando vêm da escola. É o dever deles, não é?". É pergunta retórica, sem resposta, de Aldina, que afaga, por segundos, o cabelo de Carlitos, de 11 anos. Os sapatos de fino corte que ele cose com perícia não podiam constrastar mais com as suas sandálias cambadas e as meias brancas sujas de lama. "É melhor trabalhador e aluno do que o irmão, que já perdeu dois anos lectivos", explica a mãe, que jura a pés juntos não os tirar dos bancos da escola. Pelo menos para já. O rapaz magro de olhos claros e ar ausente atira mais um sapato pa...