Aquele Inverno ameaçava ser rigoroso. A safra da pesca, no mar, terminara. Os poucos pescadores que não tinham abalado para terras estranhas, à procura do pão, esperavam que as águas do rio aumentassem com as chuvas, para tentarem a pesca da enguia. Fortes trovoadas traziam as primeiras águas barrentas, e, depois da isca preparada com fios de minhocas enroladas junto da chumbada, presas por um fio à ponta da cana, despreendidas das amarras os pequenos barcos, todos se preparavam para a colheita, que prometia ser farta. O Puxa e o Traga, latindo de satisfação, saltaram para as embracações dos donos. Os barcos deslizaram pela ria acima até que, escolhido o sítio conveniente, os fixaram com varas, e os pescadores, tirando as canas, começaram a faina. Mal a isca entrava na água, logo era puxada pelo peixe. A cana erguia-se a cada instante, atirando com as grossas enguias para o fundo do barco. Não havia memória de tanta abundância. Horas depois, no pequeno batel, avolumavam-se as enguias, ...